Com a decadência da lavoura cafeeira na região, muitos fazendeiros se mudaram para Ribeirão Preto. As terras, que antes eram destinadas ao plantio de café, estavam entregues ao abandono.
Foi quando, por volta de 1893, João Godoi, fazendeiro no Embaú, vislumbrou uma outra fonte de riqueza: a pecuária leiteira. João Godoi começou com vinte bezerras da raça taurina, adquiridas no Rio de Janeiro. Posteriormente adquiriu um touro da mesma raça, do fazendeiro lorenense Clementino Moreira.
Animado com o resultado, João Godoi comprou várias bezerras holandesas das famílias Junqueira e Andrade Mendes, em Baependi. Vários lotes de bezerras também vieram de Barbacena. Os fazendeiros de Baependi recomendaram a João Godoi o plantio de capim gordura.
Então, João Godoi convenceu seu cunhado Carlos Ribeiro de Souza Pinto (Coronel Carlos Pinto) a comprar a fazenda Sant’Ana, do Dr. Costa Júnior, para criação de gado holandês. Esta fazenda, após trinta anos, ganhou o 1º prêmio na 1ª exposição de Água Branca, em São Paulo, sob a direção de Mário Maldonado e propriedade de Norival (Vavá), filho do Coronel Carlos Pinto. O nome do gado vencedor era “Cortina”.
Na mesma época que o Coronel Carlos Pinto comprou a fazenda, o Dr. Rafael Brotero, advogado em Guaratinguetá, entrou para a concorrência.
Logo começaram a surgir indústrias de laticínio em Cachoeira Paulista. A primeira delas foi a do italiano Rafael Luongo (Rafael Queijeiro). Outra, do Sr. Mota, se instalou em frente à estação, que mais tarde passou sua leiteria a Inimá Barreto. Este, por sua vez, vendeu sua leiteira aos irmãos Januário Bruno e João Bruno, que a transformaram na primeira usina de laticínios da cidade.
Em seguida, os Srs. Dr. Gama Rodrigues, Crispim Bastos, José de Oliveira Gomes e a Sra. Ricarda Godoi (viúva de João Godoi) fundaram a Usina Gama Bastos e Cia. Mais tarde, Isidro de Toledo e Alcides Faria, que faziam parte da família Carlos Pinto, fundaram a usina Pinto Toledo e Cia.
O maior concorrente dos usineiros em São Paulo era a numerosa classe dos produtores de leite. O comércio de leite na região teve seus altos e baixos. Os usineiros marcavam o preço dentro de três períodos de tempo: época chuvosa, intermediária e seca. Os preços eram ínfimos.
Em 1937, em Guaratinguetá, organizou-se uma frente única de fazendeiros – “União Produtora do Vale do Paraíba”. Sua formação era a seguinte: Coronel Joaquim Dias (Cruzeiro), Tomaz Figueiredo (Lorena), José Lombardi Filho (Cachoeira), Francisco Ribeiro (Guaratinguetá) e Agostinho Ramos (secretário geral). Em 01/04/1937 houve uma greve dos produtores de leite e os compradores em São Paulo foram obrigados a pagar uma quantia maior pelo litro de leite.
A fim de resolver esses conflitos, em junho de 1938, o Dr. Mariano Wendel, Secretário da Agricultura (1º governo Adhemar de Barros), organizou e presidiu um Congresso Agropecuário em Pindamonhangaba. Foram membros desse Congresso, os seguintes Srs.: Waldemar Rhyte (do Ministério da Agricultura), Nicolau Atanazof (da Escola Luiz de Queiroz) de Piracicaba, C. S. Nogueira, Argeu Cordeiro, Gama Rodrigues, Félix Guisárd Filho, Arnaldo Camargo, Coronel Francisco Vieira e Agostinho Ramos. O assunto tratado nesse congresso visava resultados práticos.
Finalmente, em dezembro de 1938 o Dr. Álvaro Guião, Secretário da Educação e Saúde Pública (1º governo Adhemar de Barros), constituiu em São Paulo uma Comissão de técnicos para elaborar um projeto de lei. Faziam parte dessa comissão os Srs.: Paulo de Lima Correia, presidente; Carlos Gonçalves Machado, secretário. E os membros: Alfeu Reveillau, Plinio Pisa, Arnaldo Camargo, Virgílio Pena, Fausto Guaglia, Nicolino Morena, Alberto Byington, Alexandre Melo e Agostinho Ramos. Essas reuniões eram realizadas na Água Branca (prédio da Industria Animal) na cidade de São Paulo. Além das medidas de ordem científica e as de ordem prática, como padrão, fiscalização, infração, penalidade – essa Comissão criou os tipos de leite A, B e C.
E assim, Cachoeira contribuiu para o fortalecimento do mercado de laticínio no Estado de São Paulo. Bem como, fomentou a economia na cidade de Cachoeira Paulista por muitas décadas.
No decorrer do tempo, os irmãos J. Bruno cessaram suas atividades. E a usina Pinto Toledo e Cia foi substituída pela firma “Coligação dos Fazendeiros” e esta pela Cooperativa de Laticínios.
Fonte:
RAMOS, Agostinho. Cachoeira Paulista 1780-1970. 2º vol. São Paulo: IHGSP, 1971. p. 2-4.
Nota: veja a relação dos nomes dos fazendeiros da foto acima: https://egeca.org/intercambio-dos-fazendeiros-cachoeirenses-na-cidade-do-rio-de-janeiro-dec-60/
3 pensamentos em “História do leite em Cachoeira Paulista”
Espetacular a história do leite em Cachoeira Paulista.
Parabéns!!
Obrigado pelo comentário, Sr. Clovis. Sua família fez parte dessa história também.